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Jaru, 22 de novembro de 2024

Conheça o Projeto Escola do Chocolate desenvolvido pelo IFRO Campus Jaru

Do cultivo ao processamento do cacau: conheça o Projeto Escola do Chocolate desenvolvido pelo IFRO Campus Jaru

Com o objetivo de fomentar e auxiliar o crescimento sustentável da cultura cacaueira no estado de Rondônia, proporcionando aos produtores rurais qualificação técnica e assessoramento para que consigam produzir amêndoas de qualidade e produtos derivados do cacau com maior valor agregado, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), Campus Jaru, vem desenvolvendo o Projeto Escola do Chocolate. Ações voltadas para o cultivo, beneficiamento e processamento do cacau estão mobilizando a cadeia produtiva regional.

Segundo o Coordernador-Geral do projeto, Renato Delmonico, um dos grandes focos deste projeto de ensino, pesquisa e extensão é valorizar e impulsionar a agricultura familiar, oportunizando novas formas de renda e a venda de produtos de maior qualidade. Para isso, em 2023 foram direcionados 5 milhões de reais via emenda parlamentar do Senador Confúcio Moura. Para 2024, estão programados mais 5 milhões para continuidade e expansão do projeto, também via emenda do senador. “Ainda existe o planejamento de liberação por parte do senador de um valor aproximado de 10 milhões, em um prazo de três anos, para que se chegue a 2.100.000 (dois milhões e cem) mudas doadas aos produtores rurais (cacauicultores) do estado de Rondônia”, destaca Renato.

De acordo com Francisco Hildemburg Costa Bezerra (Vereador Chiquinho do Cacau), extensionista da Emater e um dos idealizadores do projeto, a Escola do Chocolate atende a uma necessidade da classe dos cacauicultores do estado de Rondônia. “Jaru desponta como o maior produtor de cacau do Estado, com uma produção de 1.555 hectares, e, recentemente, o ganhador do prêmio das melhores amêndoas do Brasil, também reside em Jaru. Diante desse cenário, com o advento da Escola do Chocolate, toda cadeia produtiva terá uma espaço técnico e estrutura para atender a demanda dos cacauicultores na produção e no ensino-aprendizagem dos derivados do cacau. A maior expectativa do projeto, além de agregar valor à produção, é proporcionar aos produtores e, em especial aos jovens rurais, condições técnicas de ensino para promover a sustentabilidade da propriedade, com respeito ao meio ambiente e valorização e incentivo à sucessão familiar”, opina.IFRO Campus Jaru Escola do Chocolate 28

Marcileide Zirondi, Analista do Sebrae em Jaru e Coordenadora do Projeto  Cacau Sustentável de Rondônia, destaca que o projeto Escola de Chocolate tem uma grande importância para a cacauicultura, verticalizando os seus produtos e valorizando os pequenos produtores. “Vai trazer para a população conhecimento de produtos de qualidade de produtores rurais e também de empreendedores da cidade, que veem a importância de você comer e adquirir produtos in natura e de qualidade, como os subprodutos que serão oferecidos na Escola de Chocolate, não só a amêndoa em si, uma vez que o projeto vai iniciar nas mudas de cacau até a fabricação do chocolate e seus derivados. E isso vai gerar renda e sustentabilidade, tanto social, como também ambiental e econômica”, analisa.

Arranjos produtivos locais

Conforme Renato, o estado de Rondônia ocupa entre o terceiro e o quarto lugar de produção de cacau no Brasil. “E nos últimos três anos tem se destacado na qualidade sensorial de nossas amêndoas”, destaca, elencando que, em 2021, um produtor da cidade de Buritis conquistou o terceiro lugar no concurso nacional de qualidade do cacau.

“Em 2022 fomos campeões na categoria varietal com o produtor Deoclides Pires da Silva, de Jaru, e em 2023 fomos bicampeões com o cacauicultor Deoclides na categoria varietal e também campeão na categoria mistura com Robson Tomaz de Castro Calandrelli, da cidade de Nova União”, informa o gestor, que ao analisar essas vitórias, acredita haver a necessidade de orientação e acompanhamento da cultura cacaueira em Rondônia, além de incentivos por vários segmentos: “A Escola do Chocolate visa contribuir com esse desenvolvimento, para que Rondônia aumente sua produção e se mantenha no cenário nacional e internacional como sinônimo de qualidade da amêndoa”.

Ações já realizadas

No eixo de viveiros e mudas, gerenciado pelo Campus Ji-Paraná, a Coordenadora Andreza Pereira Mendonça e os alunos têm desenvolvido pesquisas para aproveitamento dos resíduos do cacau, bem como realizado os primeiros testes para produção de mudas clonais por meio de estaquia.

IFRO Campus Jaru Escola do Chocolate 17Em relação ao outro eixo, do processamento do cacau, foram desenvolvidas diversas oficinas e minicursos, em parceria com o Sebrae, no processamento do chocolate, análise sensorial e classificação do cacau. “O público-alvo dos cursos são os produtores rurais, cacauicultores e chocolateiros da região. A equipe também tem aproveitado estes momentos para se capacitar nas diversas etapas que compõem todo o processo da cadeia produtiva do cacau”, informa Marília Assis dos Santos, Coordenadora do núcleo escola/capacitação.

O IFRO também faz parte da Câmara Setorial do Cacau e tem buscado contribuir nas discussões sobre o desenvolvimento da cacauicultora. “Já foi desenvolvido um projeto de uma agroindústria para processamento do cacau/chocolate com 745 metros quadrados, que será licitado no primeiro semestre de 2024 e será construído no Campus Jaru”, adianta Delmonico.

Histórico

A Escola do Chocolate surge a partir de parcerias institucionais firmadas inicialmente entre o Campus Jaru e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RO), no ano de 2021, para o desenvolvimento de ações em prol do Projeto Cacau Sustentável de Rondônia, que é coordenado pelo gerência local do Sebrae em Jaru, e conta com outros parceiros como: Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), entre outros parceiros.

“A partir deste projeto, nos aproximamos da Câmara Setorial do Cacau, a qual nos fez convite para fazer parte como membros institucionais. Desse modo, em tratativas com o presidente, à época, Francisco Hildemburg Costa Bezerra (Vereador Chiquinho do Cacau), foi apresentada uma proposta que já havia sido discutida com parlamentares federais da implantação de uma escola de chocolate na cidade de Jaru, que é a maior produtora de cacau do estado de Rondônia e registrada pela Assembleia Legislativa como Capital do Cacau”, relembra Renato.

No início, o planejamento era adequar um espaço dentro da sede da CEPLAC de Jaru, para funcionar como uma agroindústria. Entretanto, os servidores do Campus Jaru envolvidos no projeto do Cacau, identificaram que o espaço não era condizente com a proposta social, econômica e sustentável que o projeto visava.

Nesse sentido, os servidores Alana Mara Kolln, Marília Assis dos Santos, Regiane Pandolfo Marmentini, Andreza Pereira Mendonça (Campus Ji-Paraná) e Renato Delmonico, em conjunto com os parceiros institucionais e o Vereador Chiquinho do Cacau, reformularam o projeto e propuseram que, ao invés de adequar um espaço, era necessário construir uma edificação que comportasse a agroindústria, os ambientes administrativos e os espaços para capacitação da comunidade. “E para comportar tal construção, oferecemos o espaço do Campus Jaru para sediar este empreendimento e projeto, o que foi aceito por unanimidade pela Câmara Setorial do Cacau”, destaca Renato.

Portanto, em maio de 2022, para subsidiar a elaboração do projeto e do layout dessa construção, os servidores citados anteriormente fizeram uma visita técnica em conjunto com a Gerente Local do Sebrae, Marcileide Alves Zirondi, à cidade de Ilhéus na Bahia, onde se encontra o Centro de Inovação do Cacau (CIC), referência nacional sobre a qualidade do cacau no Brasil, bem como outras instituições como CEPLAC, Fazendo Capela Velha, Cooperativa de Cacau de Gandu e ao Instituto Federal Baiano – Campus Uruçuca. “O campus de Uruçuca é referência também no trabalho com cacau e processamento de chocolate, possuindo inclusive uma pós-graduação em Chocolate”, destaca Renato.IFRO Campus Jaru Escola do Chocolate 21

A partir dessa imersão de conhecimentos na Bahia, foi possível finalizar o projeto e a proposta de layout da escola, fechando em uma proposta de 745m² de construção, e envolvendo um orçamento inicial, para um plano de trabalho de três anos, em torno de R$ 5 milhões de reais, considerando a demanda de obras, equipamentos, capacitação e pagamento de pessoal.

Com a proposta finalizada, ainda em 2022, começaram as tratativas para apresentação do projeto às instituições, autoridades e parlamentares, com intuito de angariar recursos orçamentários que subsidiassem o projeto. Primeiramente, dois parlamentares federais, o Senador Confúcio Moura e a Deputada Federal Jaqueline Cassol, decidiram apoiar o projeto através de emendas parlamentares.

Nesse caminho, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) também solicitou uma audiência com o vereador e o diretor do Campus Jaru para apresentação do projeto, que também culminou em um apoio institucional. “E a partir dessas tratativas, no ano de 2023, foi indicado uma emenda parlamentar de R$ 5 milhões de reais, para custear o projeto, de autoria do Senador Confúcio Moura, que foi liberada para utilização a partir de junho de 2023”, informa Renato.

Equipe e capacitações

Atualmente a equipe é formada por cinco membros: Renato Delmonico (Coordenador-Geral); Alana Mara Kolln (Coordenadora do núcleo de Relações com a Comunidade); Andreza Pereira Mendonça (Coordenadora do núcleo Viveiro e Mudas); Marília Assis dos Santos (Coordenadora do núcleo Escola/Capacitação); Regiane Pandolfo Marmentini (Coordenadora do núcleo Produção e Controle de Qualidade). “Estamos finalizando a primeira seleção de colaboradores bolsistas que irão contribuir para o desenvolvimento do projeto, incluindo profissionais externos, egressos e alunos de nível médio e graduação”, destaca Regiane, acrescentando que a equipe passará a contar, em breve, com: um profissional para atividades de extensão rural e assistência técnica; um profissional para área de jornalismo; um profissional para área de processamento de chocolate been to bar; um egresso da área de alimentos; um egresso da área de engenharia florestal; um estudante de nível médio de Técnico em Alimentos e três estudantes de nível superior em Engenharia Florestal.  “O projeto conta ainda com a participação de parceiros como: Sebrae, Emater, Senar, Idaron, Ceplac, Seagri, cacauicultores e chocolateiras”, informa a coordenadora do núcleo produção e controle de qualidade.

A equipe participou de várias capacitações, dentre elas: Alana Mara Kolln e Andreza Pereira Mendonça realizaram o curso de classificação de amêndoas de cacau pelo Centro de Inovação do Cacau (CIC) de Ilhéus e certificado pelo Ministério da Agricultura. As professoras Marília Assis dos Santos e Regiane Pandolfo Marmentini realizaram o curso de Análise sensorial, e a professora Marília continuou esta capacitação no CIC em Ilhéus.

IFRO Campus Jaru Escola do Chocolate 1“Ofertamos em duas edições, no ano de 2023, e em parceria com o Sebrae e CIC, os cursos de classificação de amêndoas, análise sensorial e processamento de chocolate. Realizamos os estudos técnicos e acompanhamento dos projetos de engenharia para construção da agroindústria. Participamos de dias de campo, Concacau e outros eventos da cultura do cacau para divulgação do projeto. Também contribuímos nos trabalhos do projeto ‘Cacau Sustentável de Rondônia’, gerenciado pelo Sebrae, em parceria com diversas instituições, que já resultou na obtenção da Identificação Geográfica com indicação de procedência do cacau no estado de Rondônia”, destaca a Coordenadora do núcleo de Relações com a Comunidade, Alana Mara Kolln.

Um desses eventos de divulgação das ações da Escola do Chocolate foi a Semana Nacional da EPT, que ocorreu no período de 16 a 22 de outubro de 2023, em Brasília (DF). No evento, servidores e alunos do IFRO puderam divulgar para os visitantes a qualidade do cacau e do chocolate produzido em Rondônia, com demonstração das etapas de produção do chocolate fino, desde o fruto do cacau ao chocolate. “Essa participação possibilitou conhecer os projetos, alunos, servidores e pesquisadores de outros Institutos Federais e assim compartilhar experiências e criar uma rede de contatos. Assim, promovendo o desenvolvimento de ações que impulsionem o ensino profissionalizante, a pesquisa, a inovação e a extensão em nossa instituição”, ressaltou na época, a Professora Alana Mara Kolln.

Da sala de aula para o mundo do trabalho

Um dos alunos integrantes do projeto é Valdenor Junior Nascimento de Amorim, do 3º ano do Técnico em Alimentos integrado ao ensino médio, que tem participado de forma ativa das ações. “Sempre buscando um melhor aproveitamento de todos os ensinamentos e atividades propostas, alinhando assim meu conhecimento teórico com o prático para o desenvolvimento das atividades na área de produção, análises sensoriais e classificação”, comenta.

O estudante contribuiu em todas as etapas da cadeia produtiva, desde o recebimento do fruto, realizando a identificação do lote (anotando através de planilhas o horário de recebimento, dia e espécie do cacau), análises sensoriais, classificação, torra, descascamento, processamento do Bean to bar e higienização dos equipamentos e local antes e pós-processamento evitando qualquer tipo de contaminação. “Tenho participação em todas as etapas. Através disso poderei avançar na inovação de novos produtos e formulações”, destaca.

Valdenor acredita que, de certa forma, através da participação desse projeto, adquiriu experiência em trabalho em equipe, “sobre a organização para um ambiente de trabalho, além de melhorar meu desempenho em realizações de atividades diárias, agregando minha experiência para o mercado de trabalho posteriormente, além de me trazer experiências pessoais ao qual posso agregar profissionalmente”.


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