Primeiro mural de Kobra em Rondônia celebra diversidade e busca incentivar arte de rua no estado

A obra foi entregue ao público na segunda-feira (28) e fica em uma parede da sede do Ministério Público de Rondônia (MP-RO). Quem foi representado pela obra, como Tiago Karipuna, da etnia Karipuna, passou para visitar e se emocionou.

“Acho de grande importância até mesmo para ajudar na questão de preconceito contra os povos indígenas. Muita pessoa consideram como [os indígenas] fossem um atraso para o desenvolvimento do Brasil e na verdade a gente só quer proteger e conservar o que é nosso, que são as matas e nossos territórios”, aponta.

A obra foi executada em uma parede com 37 metros de altura e sete metros de largura. A previsão era que a pintura ficasse pronta em dez dias, mas o artista conseguiu executar em menos de seis dias. Para isso, a carga horária foi puxada: 12h por dia, trabalhando inclusive à noite, com auxílio de luminária e de seu parceiro Agnaldo, que acompanha o artista há mais de vinte anos.

Ao g1, Kobra contou que espera incentivar o patrocínio das obras de artistas locais. Durante todo o processo da execução do painel, ele recebeu muitos visita de diversas pessoas, grafiteiros e de outras áreas. O resultado foi o entendimento de que os artistas locais têm grandes potências que só precisam de um incentivo.

“Os empresários e as pessoas que têm possibilidade de olhar para esses talentos e incentivá-los, ao invés de repreendê-los, de ter preconceito, o importante é ajudar com materiais com recursos e tudo mais. Tantos prédios aí a procura de uma arte” diz Kobra.

Um desses artistas é João Alberto da Silva, mais conhecido como “Silva”. Dos 35 anos que já viveu, 11 foram dedicados à arte de rua. Silva representou Rondônia em diversos estados do Brasil e até fora do país em eventos de grafite.

“Nós [do estado] temos muitos artistas muitos capazes para fazer trabalhos dessa dessa dimensão e poder e levar o trabalho para outro patamar”, aponta.

Silva ainda relata a importância da obra para a população, pois segundo ele, estamos “isolados” do restante do Brasil e isso resulta no pouco acesso à arte de rua.

Kobra contou ao g1 sobre as técnicas usadas durante o processo da “tela”, além do spray que é a principal ferramenta dos artistas de rua. Primeiro a parede passou por um processo de preparação: um fundo com seladora e retirada das infiltrações e rachaduras.

Com essa preparação chegou a hora: o início é baseado em “quadriculados” em uma parte da parede, uma técnica usada para ampliação de desenhos. Depois do esboço feito sobre o quadriculado, o artista começou a trabalhar com preto e branco para dar profundidade ao desenho.

As ferramentas são diversas: tinta esmalte sintético, spray e pistola de pintura, para a parte colorida. Na verdade, é “um pouco de tudo”, dependendo do detalhe que necessita.

Quem é Eduardo Kobra?

Com 48 anos, Eduardo Kobra é um dos precursores da “street art” ou arte urbana. O trabalho dele é conhecido como mural e já foi feito em 36 países diferentes. Somente nos Estados Unidos da América, ele pintou mais de 50 murais.

“Eu venho de uma origem simples, nasci em um bairro da periferia de São Paulo. Eu faço pintura nas ruas desde os 12 [anos]. Passei por todos os desafios, todas as dificuldades na rua, sou autodidata”, relembra.

A arte que fez Kobra “rodar” o mundo, é, para ele, um “antídoto”, uma “vacina” e uma estrada que o levou por caminhos que ele nunca imaginou que iria. Uma das obras que ele classifica como mais importante é um mural feita na fachada da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

“Eu tô falando isso por conta da criação. Lá são 193 países e eu tive que passar por toda aprovação de todo esse conselho, porque foi inédito, a primeira vez que eles autorizaram uma pintura [de um brasileiro]. Então eu sou muito movido por esses desafios”.