O dia do casamento é, por si, memorável. No entanto, para Maicon Cleber e Janaína Cristina foi mais do que isso: a noiva entrou em trabalho de parto um dia antes da cerimônia e precisou oficializar o casamento por videochamada diretamente do hospital em que estava internada em Mirante da Serra (RO), a quase 400 km de Porto Velho.
“Era algo que a gente achou que ia ser simples e fácil, sem nenhum tipo de surpresa, mas tudo aconteceu de uma forma inusitada, nada como o esperado, tomou um rumo totalmente diferente”, relembra Maicon.
O casamento aconteceu durante uma operação da Justiça Rápida Itinerante, realizada pelo Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) para facilitar o acesso ao casamento civil, já que todo o serviço é oferecido gratuitamente e levado à comunidade: a oportunidade perfeita para quem planejava se casar, mas foi pego “de surpresa” com um bebê a caminho.
“A gente estava pensando em casar, mas nessa correria da gravidez acabou que não tinha como fazer. A neném tava pra nascer e a gente não agilizou nada, não fomos em cartório e nada disso. De repente eu vi o pessoal postando [sobre o casamento comunitário] e pensei: ‘a oportunidade perfeita, caiu como uma luva’”, relembra o noivo.
O casal fez a triagem e a audiência para converter a união estável em casamento ficou marcada para a semana seguinte. No entanto, no dia anterior à cerimônia, a pequena Laura decidiu que ela já tinha esperado demais e decidiu vir ao mundo.
“O menino do fórum entrou em contato comigo e falou: ‘eu vi que o casamento de vocês está agendado aqui pras 11h, como é que vocês vão fazer?’ Aí eu falei: ‘não sei porque ela tá aqui, o médico não deu alta ainda’”.
E foi então que iniciou uma “operação” para tornar o casamento de Maicon e Janaína possível. Os responsáveis pela Justiça Rápida fizeram uma proposta: um casamento por videochamada. O “sim”, na verdade, foi um print da tela do celular.
Print do casamento realizado por videochamada em Rondônia — Foto: TJ-RO/Divulgação
“O pessoal do Tribunal entrou em contato com a gente, perguntou se teria problema de fazer videochamada e eu falei que não, que a gente tava junto no hospital. Aí ela fez a ligação, leu toda a documentação, perguntou se a gente estava ciente e pediu para fazer um print [da tela] como confirmação do aceite da documentação”, relata Maicon.
Foi então que o casal, que está junto há quase três anos, teve uma conquista em dose dupla: realizar o sonho do casamento e trazer ao mundo a primeira filha. Poucos dias depois, eles estiveram presentes na cerimônia simbólica — o casamento comunitário — para pegar a certidão de casamento.
“As coisas às vezes tem que acontecer como são mesmo. Por mais que a gente planeje, acha que a gente tem o controle de tudo, mas nunca tá no controle da gente, sempre de Deus. Então pra mim, que eu acho que é o mesmo sentimento dela, é que aconteceu no tempo certo. A gente está feliz por ter sido algo inusitado. A realização do que a gente estava planejando há muito tempo”.
De acordo com a juíza substituta Eloise Moreira Barreto, que participou de toda a ação, situações inusitadas e que precisam de imediatismo são comuns no projeto Justiça Rápida. Quando o conciliador explicou a situação, ela não pensou duas vezes antes de permitir o casamento por videochamada.
“De pronto já respondi que era possível, pois não há impedimento legal, e fiquei muito emocionada e feliz de poder proporcionar essa alegria para o casal, de certa forma participando do acontecimento. Na verdade, o casal estava vivendo dois momentos felizes: o nascimento de um filho e o casamento. É um acontecimento que mostra a importância da presença ativa do Judiciário em todos os lugares e momentos”, aponta.
G1