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Jaru, 23 de novembro de 2024

‘Por ter nome de homem’, mulher não consegue fazer exames ginecológicos

“É um descaso e eu fiquei indignada. Não pude fazer os exames ginecológicos porque dizem que tenho nome de homem”, diz Ivaney Lopes Cardoso, moradora de Montes Claros (MG). Segurada da Unimed, Ivaney tem 46 anos e foi até um laboratório conveniado com um pedido para a realização exames que podem comprovar a suspeita de gravidez. No entanto, ela não conseguiu fazer nenhum exame.

“Pago o plano de saúde e quando preciso não consigo usar. Fiquei 15 horas sem comer e não fiz os meus exames por causa de uma justificativa absurda. Tenho a carteirinha, mostrei a identidade, mesmo assim continuaram dizendo que meu nome é masculino”, desabafa a cozinheira, que registrou um boletim de ocorrência e pretende acionar a Justiça.

Ivaney questiona a justificativa de “ter nome de homem”, já que ela fez exames de sangue no mesmo laboratório em fevereiro deste ano, usando os mesmos documentos.

O que diz o  laboratório
A médica responsável pelo laboratório onde Ivaney tentou fazer o exame, explica que a Unimed não autorizou a realização do procedimento.

“Todo exame que é realizado através de plano de saúde precisa de uma autorização. No caso desta paciente, foi pedido e negada esta autorização pelo sistema. Todas as vezes orientamos para que procurem  pelo convênio de origem para saber o que ocorreu, algumas  vezes conseguimos resolver no laboratório. No caso dela, a justificativa dada foi porque o cadastro está como masculino e os exames que ela veio fazer são para dosar hormônios femininos”, fala Christine Mendes.

O que diz a Unimed
Em nota, a Unimed afirmou que o cadastro de Ivaney foi corrigido e que ela já pode fazer os exames ginecológicos.

Após sete filhos, Ivaney foi a primeira filha de Alice (Foto: Michelly Oda / G1)Após sete filhos, Ivaney foi a primeira filha de Alice
(Foto: Michelly Oda / G1)

Escolha do nome
A mãe de Ivaney, Alice Lopes Cardoso, de 85 anos, conta como escolheu o nome da filha. “Quando eu estava grávida, pensei que se fosse menina, ia chamar Maria, nome da minha sogra que não conheci, porque quando casei ela já tinha falecido. Mas eu vi uma menininha chamada Ivanirde, achei muito bonito, porém não queria colocar o mesmo nome, por isto escolhi Ivaney e achei lindo”.

Antes de Ivaney, os pais dela tiveram 8 filhos. “Eu sonhava em ter uma filha, mas nunca ia imaginar que esta confusão poderia acontecer por causa do nome dela”, diz a aposentada.

Mudança de nome
Apesar do problema enfrentado no laboratório, a cozinheira é enfática ao dizer que não pretende trocar de nome, o que é permitido por lei. “A minha mãe escolheu Ivaney com todo amor, ela acha lindo e eu também, não vou mudar de nome. Era o sonho dela e do meu pai de ter uma filha.”

Chefe de cartório diz que não é comum troca de nomes por causa de constrangimento (Foto: Michelly Oda / G1)Chefe de cartório diz que não é comum troca de
nomes por causa de constrangimento
(Foto: Michelly Oda / G1)

Ivaneis e Ivaneys em Montes Claros
Em Montes Claros, há 14 pessoas registradas como Ivaney e Ivanei, apenas uma delas é mulher. Cláudio Teixeira chefe do Cartório de Registro Civil explica que alguns nomes geram confusão e cita Sidnei e Deusdete como alguns deles.

Cláudio também afirma que são pedidos por ano, dois ou no máximo três pedidos por troca de nome por causa de casos como o de Ivaney.

“É algo simples de fazer, falta um pouco de conhecimento por parte das pessoas, não precisa de ter nem advogado, basta ir ao fórum e ingressar com um pedido de mudança, alegando que o nome está causando constrangimento”, explica o chefe de cartório.


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