A família do engenheiro civil João Benesby, de Porto Velho, foi uma das centenas que escolheram a região para morar e trabalhar.
Ele lembra que seu avô, o judeu Saul Benesby, chegou na Amazônia escondido dentro de um navio, no porto do Pará, enquanto fugia da perseguição religiosa no início do século XX. E foi em Rondônia que o judeu prosperou e construiu um império no segmento de vendas de automóveis.
O neto João não teve contato direto com o avô Saul, mas cresceu ouvindo as histórias do judeu pioneiro na Amazônia.
“Assim como muitos outros judeus, ele precisou começar do zero. Nisso ele conheceu a esposa, também judia e teve o primeiro filho, meu tio. Um ano depois do nascimento, ela morreu. À época, minha avó veio para cuidar dele, que era só uma criança e acabou se casando com meu avô. O que acredito ser tradição. Depois disso eles tiveram mais sete filhos”, descreve João.
Ana Salgado Bennesby segundo esposa de Saul. — Foto: João Bennesby/ Arquivo Pessoal
Mas como Saul descobriu a região que mais tarde se tornaria Rondônia? Segundo João Benesby, tudo foi por causa de uma viagem a trabalho.
“Depois de chegar no Pará ele foi para Manaus (AM), onde trabalhou como caixeiro-viajante, isto é, o vendedor ambulante que comercializa produtos fora das regiões onde eles são produzidos”, diz.
Com a viagens, Saul acabou chegando em Guajará-Mirim. Ele gostou tanto do lugar que lá se instalou e viveu por todo o Ciclo da Borracha.
Na pérola do Mamoré, com ponto fixo, o avô de João abriu um comércio para atender a população daquela região.
Uma das primeiras empresas em Abunã — Foto: Arquivo Pessoal
“Ele foi muito próspero desde que chegou aqui como caixeiro-viajante no ciclo da borracha. Ele iniciou um comércio, hoje o prédio está abandonado. Lá ele vendeu castanha, no auge da borracha. Ele comprou algumas terras e nelas, começou a plantar, criar gado e extrair castanha de plantação. Mexeu com seringais. A família hoje é muito próspera graças a essa iniciativa dele“, acredita João.
Com a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM) no início do século XX, o avô de João viu facilitar o escoamento da castanha e da borracha dos seringais para a região Sul do Brasil.
Com o passar dos anos, segundo João, seu avô criou outras empresas e passou a atender outros segmentos da sociedade, como a construção civil, além do mercado automobilístico (setor que atualmente atende não só Rondônia, mas o Acre e Rio de Janeiro)
João, assim como o avô, também se apaixonou pelo ramo da construção civil e hoje é um engenheiro que projeta, gerencia, executa e fiscaliza obras no estado.
“As pessoas que conhecem a história do meu avô e de tudo que ele fez, acaba se intimidando pela persistência e coragem que ele teve. Para mim, é uma inspiração diária ser uma pessoa como ele foi”, finaliza.
De Portugal para Rondônia
Outra família que escolheu Rondônia para viver foi a da portuguesa Maria Helena Carrazedo Cruz. Filha de Carolino Assunção Cruz e Josefina de Jesus Carrazedo, Helena diz que seus pais encontraram no Brasil um refúgio para escapar da guerra colonial.
“Em 1961 iniciou a guerra colonial ou guerra de libertação e meus pais não queriam que os filhos fossem para a batalha porque eram eles que cuidavam das plantações. Como eu já tinha irmãos residindo no Brasil, meu irmão fez uma Carta de Chamada aos meus pais e automaticamente os filhos vieram juntos”, lembra.
Maria Helena chegou no Brasil quando tinha quatro anos. Segundo ela, a viagem com seus pais foi feita de navio e durou 13 dias e 13 noites, de Portugal até o Porto do Brasil em Santos (SP).
Helena tinha quatro anos quando chegou ao Brasil, após viagem de navio com a família para fugir da guerra — Foto: arquivo / Helena Cruz
E história da família em território brasileiro começou lá São Paulo, cidade em que os pequenos foram para a escola e os mais velhos foram trabalhar nas fábricas mais antigas da época.
Helena morou em São Paulo até 2005 e, depois disso, já casada, decidiu se mudar para Rondônia, onde o esposo já atuava na administração da saúde do estado.
“Acabei vindo para Rondônia onde meu esposo, Luiz Fernando Amarante Arantes, era administrador na área do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele trabalhava assessorando os secretários de saúde”, conta.
A paixão pelo verde da Amazônia e pela história dos amazônidas foi crescendo, ano após ano, e acabou que Helena decidiu não voltar mais a Portugal.
“Meu esposo veio a falecer em 2014. Aqui formei meus dois filhos. Comprei minha casa e me aposentei. Viajei o Brasil todo mas nunca tive a oportunidade de conhecer a região Norte e acabei vindo para morar e hoje sou apaixonada por Rondônia”, explica.
Helena e a família chegaram no porto de São Paulo em 1961 — Foto: Helena Cruz/ arquivo