No final do ano, o tão esperado 13º salário traz uma renda adicional ao bolso dos trabalhadores. E, neste ano, com o desaquecimento da economia, muitos brasileiros devem usar o dinheiro para quitar dívidas ou até guardar uma parte para investir, já que em meio ao cenário econômico incerto, é prudente ter uma reserva em caso de perda de emprego ou outros imprevistos.
Os patrões tinham até segunda-feira (30) para pagar a primeira parcela do 13º salário. Já a segunda parcela deve ser paga até o dia 18 de dezembro, pois dia 20, que é a data estipulada em lei, cai em um domingo.
O pagamento de dívidas será o destino do 13º salário de 74% dos assalariados em 2015, segundo uma pesquisa divulgada pela Anefac – aumento de 8,8% em relação a 2014.
Em contrapartida, caiu em 27%, entre 2014 e 2015, o percentual de brasileiros dispostos a utilizar o salário extra para comprar presentes de fim de ano, o que demonstra maiores dificuldades e preocupações dos consumidores com os gastos.
Já a pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que quase um terço dos consumidores que recebem o dinheiro extra no final do ano irão economizar ou investir. Entre os que não pretendem gastar tudo no Natal, 30% têm como objetivo quitar as dívidas.
8 passos para usar o 13º para aliviar a vida financeira |
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Divida o 13º em quatro partes: compras, dívidas a quitar, despesas do início do ano e poupança. |
Quite suas dívidas antes de pensar nas despesas. |
Aproveite para abater parcelas de financiamentos. |
Em caso de dívida alta, negocie antes. |
Faça uma reserva para despesas de início de ano. |
Em tempos de crise, é bom separar uma parte para ser aplicada e, assim, ter uma reserva. |
Pague a viagem de final de ano ou das férias. |
Avalie a possibilidade de dar os presentes no início do ano que vem, quando acontecem as liquidações – no Natal a maior demanda faz os preços subirem |
“O dinheiro do 13º deveria ser primeiramente pensado para pagar dívidas pendentes, empréstimos ou para investir. Se o consumidor tem apenas uma dívida em aberto, é mais fácil resolver o problema. Caso exista mais de uma, o ideal é escolher aquela que está atrasada ou optar pelo valor com juros mais altos como, por exemplo, cheque especial e cartão de crédito”, diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
“Muito esperada pelos assalariados, essa renda extra chega para acabar com as dívidas, quitar impostos, comprar presentes e até para ser aplicada em algum fundo de rendimento. Especialmente neste ano, quando muito se fala em crise, o 13º certamente será muito bem-vindo em qualquer que seja a situação”, afirma a educadora financeira Dora Ramos.
Para Dora, quem mais tem motivos para comemorar o salário são os endividados, pois usarão esse dinheiro para cobrir o empréstimo do banco, pagar a fatura do cartão de crédito, empréstimos e qualquer outra pendência que os meses anteriores tenham deixado. “Mas a pessoa com dívidas deve tomar cuidado: é preciso ter controle para não considerar o 13º a solução de todos os problemas financeiros e utilizá-lo para novos gastos ou tê-lo como um “impulsionador” de novas dívidas”, alerta.
“Antes de gastar qualquer centavo do 13º, coloque no papel o valor total que irá receber e as suas pretensões de gastos. Primeiro veja se a conta fecha. Pode parecer uma dica boba, mas a maioria das pessoas não faz isso e no final vê que entre recebido e gasto existe um déficit, e o que era para ser uma renda extra, torna-se uma dívida extra”, diz Fernando Medina, diretor de operações da Luandre.
O professor Osmar Rezende de Abreu Pastore, do curso de administração da Anhembi Morumbi, lembra que mesmo os mais organizados e que não estão endividados têm muitos compromissos financeiros no começo de cada ano, como IPVA, IPTU, material escolar, matrículas, parcelamentos no cartão de crédito e dívidas dos presentes e viagens de final de ano. Além disso, imprevistos podem acontecer.
“É preciso ser muito cauteloso em 2016, pois a previsão para a economia do nosso país é de retração. Além disso, não podemos esquecer que o Brasil ainda depende do mercado externo. Por isso, seja previdente, evite despesas e aumente seu pé de meia”, diz Pastore.
Dora pondera que os mais organizados conseguem ampliar sua poupança, iniciar um curso profissionalizante, adquirir um novo bem desejado e até apostar em algum empreendimento. “Apenas esses podem investir em alguma nova oportunidade, seja financeira, profissional ou mesmo pessoal, com tranquilidade e sem remorsos”.
Para os demais, ela afirma que é hora de colocar na ponta do lápis o que irá receber nas próximas semanas e calcular todas as pendências. Mesmo que não sobre nada e até falte, é preciso considerar a melhoria das condições e iniciar uma temporada de economia. “O 13º salário deve ser encarado não como a solução de todos os problemas, mas como um excelente incentivo que, somado à privação do que é supérfluo, pode representar um 2016 bem mais tranquilo”, resume.
Veja abaixo as dicas dos especialistas:
“Sempre se questione se realmente precisa fazer determinada compra ou endividamento. Valorize o seu dinheiro e seu crédito”, diz Pastore.
O professor indica ainda atenção no parcelamento. “Caso não seja possível o pagamento à vista, parcele até o limite de parcelamento que não apresente juros”, diz.
Para o educador financeiro do Portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli, aproveitar o 13º de forma inteligente não significa necessariamente abandonar as compras de Natal. “É possível gastar parte do valor em presentes e comemorações. O consumidor só precisa lembrar que, se possui dívidas, o melhor uso do dinheiro é quitá-las, garantindo uma maior tranquilidade financeira no ano que chega”, explica.
Segundo Vignoli, no Natal, a publicidade se torna ainda mais agressiva para justamente fisgar o 13º salário, mas é possível resistir. “O ideal é que as compras de Natal caibam no orçamento de dezembro sem que seja preciso mexer no 13º. Se isso não for possível, procure não gastar além de 20% do valor total nas festas. Torrar tudo é desnecessário, a menos que você não tenha dívidas e já tenha dinheiro suficiente guardado para se dar a esse luxo”, diz.
Vignoli explica que compras parceladas também são dívidas. Por isso, caso haja alguma compra sendo paga com juros, é recomendável adiantar o pagamento do máximo de parcelas que conseguir com o 13º, diminuindo o valor total a ser pago. E, de preferência, quitar todas as parcelas logo de uma vez.
“Nesta época o que realmente importa é estar junto de quem gostamos. O presente é apenas uma parte da comemoração. Uma lembrancinha passa a mensagem de carinho da mesma forma. Fazendo isso você economiza o 13º para o que for prioridade, como quitar dívidas e investir em sonhos”, diz Vignoli.
Ele recomenda fazer uma lista de pessoas que deseja presentear e começar a pesquisar valores das lembrancinhas de Natal. Depois, definir um limite de gastos e respeitá-lo. “Trocar os presentes para a família toda pelo amigo secreto pode ser uma boa forma de economizar dinheiro”, opina.
Outra dica dos especialistas é pensar na possilidade de adiar a compra dos presentes de Natal para janeiro, quando ocorrem as tradicionais liquidações e queimas de estoque.
Pastore recomenda reservar uma parte do 13º para os gastos de janeiro, como impostos e matrículas escolares, saldando os tributos como IPVA e IPTU em parcela única. “A maioria dos pagamentos à vista oferece descontos ou até isenção de juros”, diz.
“IPVA, IPTU, material escolar… São muitas as contas a serem pagas no começo do ano, que podem ser quitadas com a ajuda do 13º. Então, antes de correr para o shopping, reserve a quantia necessária para cobrir essas despesas sazonais”, aconselha Vignoli.
Já Fernando Medina, diretor de operações da Luandre, diz que não é necessário usar todo o 13º para quitar IPTU e IPVA, mas reservar uma parte da renda extra para reduzir o montante total fará uma diferença no orçamento mensal. “Quem opta por pagar esses impostos parcelados pode reservar o valor referente a uma parcela, por exemplo”, sugere.
Vignoli diz que usar o 13º para quitar dívidas e organizar as finanças é uma das maneiras mais inteligentes de utilizar o dinheiro extra.
“Saldando dívidas antigas você começa o novo ano sem tantas contas para pagar. No entanto, não é porque tem o dinheiro na mão que dispensará negociações. Tente renegociar o valor ou mesmo um abatimento com o banco ou com o seu credor”, recomenda.
É importante quitar as dívidas que mais pesam, como cartão de crédito, cheque especial, empréstimo consignado e prestações de compras mais elevadas. Quem tem financiamento imobiliário deve usar o dinheiro para quitar prestações do imóvel.
Se o consumidor não tem dívidas, a oportunidade é ideal para investir ou “engordar” a reserva financeira. Mas Vignoli ressalta que não é preciso reservar todo o dinheiro para esse fim.
“No entanto, quanto mais dinheiro tiver na poupança, maior será o rendimento mensal. A vida está cheia de imprevistos e é preciso estar financeiramente preparado para eles”, diz.
Fernando Medina recomenda aproveitar os recessos de final de ano para fazer um inventário dos materiais dos filhos para comprar somente o necessário.
“Pesquise online o melhor preço dos itens e reserve uma parte do 13º para isso. Comprar com antecedência pode ser interessante porque os preços tendem a ficar mais caros a partir de janeiro”, diz.
Valéria Nascimento, gerente financeira da Luandre, acrescenta que para os maiores, o maior gasto é com livros. Segundo ela, uma boa opção é pesquisar em sites de venda de livros usados com descontos de até 70% em relação aos novos.
“O final do ano é sempre a data mais cara para viajar, principalmente Natal e réveillon. Portanto, se você puder, opte por escolher datas em que os destinos têm uma menor procura e, consequentemente, ficam mais baratos. Se não houver opção, certifique-se de que a viagem não vai prejudicar o seu orçamento”, aconselha Medina.
Pastore considera vantajoso negociar com a empresa a antecipação do 13º salário somente em caso de pagar dívidas e reduzir juros. “Gastar em novas compras só vai piorar a situação quando chegar o fim do ano”, diz.
Para ele, a antecipação também pode servir como uma aplicação em poupança, fundo ou tesouro nacional. “Quando chegar o fim do ano, além do valor integral, o poupador ainda terá um pequeno rendimento”.