A família de Santana Coelho, de 63 anos, fez um pedido desesperado de ajuda esta semana. Ao g1, a família contou que ela precisa urgentemente de um tratamento para câncer no útero, mas não consegue vagas em Rondônia porque não possui documento de identificação.
“Pelo amor de Deus não deixa a minha mãe morrer. Ela precisa de um tratamento. Só o que eu peço, pelo amor de Deus, é um tratamento pra minha mãe”, apelou a filha da paciente, Fabiana Souza.
Segundo os familiares, Santana está muito debilitada. Nos últimos meses ela perdeu muito peso, não consegue se alimentar e depende de ajuda para quase tudo.
“Ela foi perdendo a vontade de tudo porque toda porta que ela batia recebia um ‘não’. Ela foi se acabando, falava que não ia dar mais nada certo, que ela não ia correr atrás mais”, contou a nora de Santana, Elizangela dos Santos.
Através dos protestos e do estado de saúde, Santana conseguiu ser internada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Porto Velho, mas ainda não conseguiu uma vaga no Hospital de Amor, unidade especializada no tratamento de pessoas com câncer.
Passado doloroso
Mas por que, aos 63 anos, Santana não possui documento? Elizangela explicou que por trás disso há um passado doloroso. Quando tinha cerca de 11 anos, a mulher foi abusada por um amigo íntimo da família. Quando isso aconteceu, ela morava no Pará e não tinha nenhum documento.
Segundo a família, Santana morou na rua por muito tempo, dormia em bancos de praça ou na casa de outras pessoas, quando conseguia alguém. Nesse meio tempo, ela acabou vindo para Rondônia e aqui ela casou e foi morar em sítios, chácaras e outras áreas da zona rural.
Elizangela contou que, como a sogra não sabe ler ou escrever e tinha uma boa saúde, nunca teve a necessidade ou conhecimento de como ir atrás de documentos. Até que foi tarde demais.
Em Chupinguaia (RO), onde mora, Santana conseguiu atendimento médico, mas ao chegar em Porto Velho as dificuldades começaram.
“Eles [os hospitais] falaram para mim: ‘Ah tem que fazer o documento para internação’. Certo, vamos fazer o documento, mas demora para sair. Aí o documento sai e, Deus me livre, a minha sogra morre. Do que que vai valer esses documentos? Só para ela para não ser enterrada como indigente”, comentou a nora.
A família contou que os processos para emissão de documentos já estão em andamento com advogados, mas desejam atendimento urgente, já que ela está com o estado de saúde muito debilitado.
A defesa da paciente informou que foi feito um cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) no nome dela e agora eles buscam na Justiça, a autorização para o início do tratamento apenas com este documento, enquanto os outros são solicitados.
O g1 entrou em contato com o Hospital de Amor em Rondônia, que explicou que os pacientes são atendidos na unidade por meio da regulação hospitalar. Ou seja, ela precisa ser encaminhada de outra unidade de saúde que indique o melhor local para atender suas necessidades.
Já a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) informou nesta quinta-feira (2) que vai “verificar a possibilidade de realizar uma visita domiciliar para o acolhimento, escuta qualificada, entrevista social, relatórios e encaminhamentos necessários para garantir o direito da paciente em questão. Também deverá ser feito o acompanhamento social sistemático e continuado da paciente e dos familiares conforme a problemática apresentada”.