O governo de São Paulo transfere hoje (13), o principal líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como ‘Marcola’, e outros 21 membros da cúpula da facção criminosa para presídios federais. A operação teve início na madrugada desta quarta.
Eles estão sendo levados para Mossoró, Brasília e Porto Velho. Sete foram transferidos porque haviam sido alvos da operação Echelon em 2018. Outros 15 porque fazem parte da sintonia geral final do PCC, com seu primeiro e segundo escalão.
O Estado apurou que o plano inicial era esperar alta do presidente Jair Bolsonaro, pois se temia possíveis reações da facção em São Paulo, o que não ocorreu até agora. Os criminosos foram transferidos por decisão do juiz Paulo Zorzi, corregedor dos presídios, e a pedido do promotor Lincoln Gakiya.
“Essa é a maior operação ja feita. Esperamos desarticular momentaneamente a cúpula da facção”, afirmou o promotor Gakyia, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado de Presidente Prudente.
RONDÔNIA
Pela manhã uma grande movimentação de 30 viaturas do Exército Brasileiro foi notada por quem passou pela Rodovia Federal 364, sentido ao Acre, nas imediações do Presídio Federal de Rondônia, próximo ao distrito de Jacy Paraná.
Na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou decreto autorizando a presença das Forças Armadas em um raio de 10 quilômetros dos presídios de Porto Velho (Rondônia) e de Mossoró (Rio Grande do Norte).
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma que “a operação é a primeira ação realizada com a participação da Secretaria de Operações Integradas (SEOPI) criada na atual estrutura do Ministério da Justiça e Segurança Pública”.
Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola
Há cinco Presídios Federais no país: Catanduvas (PR), Campo Grande (MS), Mossoró (RN), Porto Velho (RO) e Brasília (DF). Ainda não se sabe ao certo para onde Marcola, está sendo levado, mas os do Mato Grosso do Sul e do Paraná foram descartados pela proximidade com o Paraguai, onde a facção criminosa tem forte presença.
ESTRATÉGIA
O isolamento de lideranças é estratégia necessária para o enfrentamento e o desmantelamento de organizações criminosas. O trabalho integrado conta com a atuação da Polícia Militar, Polícia Civil e Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, Força Aérea Brasileira (FAB), Exército Brasileiro, Coordenação de Aviação Operacional e Comando de Operações Táticas da Polícia Federal, além da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
O trabalho também envolve ações de inteligência em conjunto com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A transferência ocorre em cumprimento à decisão da Justiça do Estado de São Paulo após pedido do Ministério Público de São Paulo”, diz o texto.
MINISTÉRIO PÚBLICO
O MP, por meio de nota, reafirmou que solicitou à Justiça que detentos ligados a facção criminosa em Presidente Venceslau fossem transferidos.
“Na semana passada, o Poder Judiciário acolheu o pedido do MPSP. Após a decisão judicial, a Secretaria da Segurança Pública, a Secretaria da Administração Penitenciária, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e o Ministério da Justiça tomaram as medidas cabíveis para a transferência de 22 presos, que está ocorrendo nesta quarta-feira (13/02)”, diz o texto.
Dentre os 22, sete tiveram a transferência definida no ano passado por causa do envolvimento em crimes descobertos na Operação Echelon, como ataques de agentes públicos e assassinatos de rivais.
Na decisão de novembro, o juiz Paulo Sorci, da 5ª Vara das Execuções Criminais de São Paulo, diz que “essas considerações revelam o perfil de alta e incomum periculosidade do detento, situação peculiar que determina a sua remoção para unidade prisional especial, já que inviável sua permanência em presídio comum da rede estadual. Em conclusão, mostra-se imprescindível a inclusão e transferência do requerido para unidade de segurança máxima federal”.
Os 15 estão sendo transferidos por causa de um plano de fuga frustrado para o resgate dele e de parte da cúpula. Em junho de 2018, a operação Echelon prendeu 63 integrantes em 14 estados.
As investigações começaram a partir de trechos de manuscritos encontrados nos esgotos do presídio. A Polícia Civil identificou sete chefes e confirmou a existência da célula “sintonia de outros estados e países”.
Os criminosos teriam assumido as funções da “sintonia” quando os chefes da organização criminosa ficaram isolados no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), em 2016, em decorrência da operação Ethos, que revelou esquema envolvendo advogados da facção.
Chefes da facção chegaram a ficar no RDD, previsto na Lei de Execuções Penais, mas no momento da transferência estavam em regime fechado comum. RDD é uma forma especial de cumprimento da pena em regime fechado em que o preso fica em cela individual e com limitação á horário de banho de sol e de direito a visita.
PLANO DE FUGA
Na representação com pedido de transferência dos 15, o Ministério Público diz que identificou o plano de resgate com apoio de colaboradores. Em um dos trechos, o MP detalha o poderio do grupo para o resgate: “Relatos da inteligência, das polícias da região, o grupo arregimentado por [integrante da facção], seria formado por grande número de homens que estão sendo treinados nas fazendas dele na Bolívia, os quais seriam originários de várias nacionalidades, inclusive soldados africanos com expertise no manuseio de armamento pesado e explosivos, divididos em várias células com funções específicas e compartimentadas, as quais contariam também com criminosos que teriam participado de grandes ações contra empresas de valores e resgates de presos, ações essas que tiveram êxito em neutralizar a polícia militar do local até que os criminosos concretizassem seu intento”.
Depois, em dezembro do ano passado, cartas do PCC, apreendidas pela Polícia Militar indicaram um plano para matar o promotor que combate a facção no interior de São Paulo e o coordenador dos presídios da região oeste.
O Ministério Público criou uma força-tarefa para investigar as ameaças e reforçou a segurança pessoal de Lincoln Gakiya, que atua no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em Presidente Prudente.
VEJA A LISTA DOS TRANSFERIDOS
– Lourinaldo Gomes Flor (‘Lori’)
– Marcos Williams Camacho (‘Marcola’)
– Pedro Luís da Silva (‘Chacal’)
– Alessandro Garcia de Jesus Rosa (‘Pulft’)
– Fernando Gonçalves dos Santos (‘Colorido’)
– Patric Velinton Salomão (‘Forjado’)
– Lucival de Jesus Feitosa (‘Val do Bristol’)
– Cláudio Barbará da Silva (‘Barbará’)
– Reginaldo do Nascimento (‘Jatobá’)
– Almir Rodrigues Ferreira (‘Nenê de Simone’)
– Rogério Araújo Taschini (‘Taschini’/’Rogerinho’)
– Daniel Vincius Canônico (‘Cego’)
– Márcio Luciano Neves Soares (‘Pezão’)
– Alexandre Cardoso da Silva (‘Bradok’)
– Julio Cesar Guedes de Moraes (‘Julinho Carambola’)
– Luis Eduardo Marcondes Machado de Barros (‘Du da Bela Vista’)
– Celio Marcelo da Silva (‘Bin Laden’)
– Cristinao Dias Gangi (‘Crisão’)
– José de Arimatéia Pereira Faria de Carvalho (‘Pequeno’)
– Alejandro Juvenal Herbas Camacho Marcola Júnior (‘Marcolinha’)
– Reinaldo Teixeira dos Santos (‘Funchal’)
– Antonio José Muller Junior (‘Granada’)
Fonte: Rondoniaovivo