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Jaru, 29 de março de 2024

Temer justifica no Twitter uso de ‘acidente’ para definir massacre em Manaus

O Presidente Michel Temer utilizou o perfil dele no microblog Twitter, na tarde desta quinta-feira (5), para justificar o uso da palavra “acidente” ao descrever a rebelião no início da semana em um presídio de Manaus (AM) que resultou na morte de pelo menos 56 pessoas.

Mensagem publicada pelo presidente Michel Temer no microblog Twitter nesta quinta (Foto: Reprodução)Mensagem publicada pelo presidente Michel Temer no microblog Twitter nesta quinta (Foto: Reprodução)

Mensagem publicada pelo presidente Michel Temer no microblog Twitter nesta quinta (Foto: Reprodução)

 

Mais cedo, nesta quinta, ao se reunir com ministros da área de segurança, no Palácio do Planalto, o presidente falou pela primeira vez sobre a rebelião e classificou o episódio como um “acidente pavoroso” (assista no vídeo abaixo). O governo do Amazonas chamou de “o maior massacre” do sistema prisional do estado.

“Sinônimos da palavra ‘acidente’: tragédia, perda, desastre, desgraça, fatalidade”, publicou o presidente na rede social.

 
 

Temer se solidariza com famílias das vítimas no Amazonas: ‘acidente pavoroso’

Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 5ª edição, de 2010, acidente significa “acontecimento casual, fortuito, imprevisto, acontecimento infeliz, casual ou não, e de que resulta ferimento, dano, estrago, prejuízo, avaria, ruína, etc., desastre”.

Conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 1ª impressão com alterações, de 2004, acidente significa “qualquer acontecimento, desagradável ou infeliz, que envolva dano, perda, lesão, sofrimento, ou morte”.

Opinião de especialistas

Formado em letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre pela PUC-Rio, o professor da língua portuguesa Sérgio Nogueira avaliou ao G1 que o uso do termo “acidente” não é “adequado” para o episódio envolvendo a rebelião no presídio em Manaus.

“[O termo] ‘acidente’ não é adequado. Isso [a rebelião] não é acidente. Mas daí é subjetivo. A palavra ‘acidente’ é aquilo que acontece ao acaso, e não é bem o caso [de Manaus]. É uma tentativa de suavizar”, avaliou.

Também formado em letras pela UFRGS, mestre e doutor em língua portuguesa, Cláudio Moreno disse ao G1 que, na avaliação dele, o presidente usou o termo adotando um conceito de que a palavra “acidente” está relacionada a um acontecimento desagradável, com perda e morte.

“O que se pode criticar é a escolha da palavra ‘acidente’. Acidente sugere que foi uma coisa fortuita, [que] não era previsível. Ele [Temer] quer dizer que é uma coisa pontual, não é normal. Agora, para outros, não é acidente porque já estava anunciado. Então, usar a palavra ‘acidente’ seria uma maneira de querer ‘tirar o corpo fora’. Por isso, a escolha de palavras é a retórica política”, disse.

“Poderia ser ‘tragédia’, poderia ser ‘catástrofe’. Ele [Temer] usou ‘acidente’ porque as pessoas escolhem as palavras de acordo com a sua ideologia. A discussão vai se dar no nível ideológico e não no nível das palavras, porque em ambos os casos está certo. Toda escolha de palavras implica um posicionamento de ideias. […] As palavras têm que ser muito bem pesadas para o que as pessoas querem dizer, qualquer assessor de imprensa tem que saber isso”, completou.

Risco de fuga

Nesta quarta (4), o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse à imprensa, após se reunir com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, que as autoridades do Amazonas sabiam da possibilidade de fugas e rebeliões no presídio onde houve o massacre em Manaus.

De acordo com o colunista do G1 e da GloboNews Gerson Camarotti, a avaliação entre os integrantes do Palácio do Planalto é que o governador do Amazonas, Claudio Melo, vive uma situação delicada.

Repercussão nas redes sociais

Desde que Temer se referiu à rebelião como um “acidente pavoroso”, usuários nas redes sociais passaram a criticá-lo.

Um desses usuários, por exemplo, disse ser “ridículo um presidente advogado não, ao menos, reconhecer a falência do sistema penitenciário. Acidente não é palavra pra isso”.

Outro usuário publicou: “Presidente, o senhor usou a palavra errada para o fato ocorrido. Não adianta buscar sinônimos”.

O G1 procurou a assessoria de Temer, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.


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