Gael usa turbante desde os 6 meses
Comecei a montar o enxoval com sete meses e na hora de comprar as roupinhas, não escolhi apenas os tradicionais tons e modelos masculinos. O Gael é uma criança, ele não é obrigado a usar azul, cinza, preto. Ele tem o direito de explorar tudo. Por esse motivo, o guarda-roupa dele é variado independentemente da cor e gênero: ele tem roupas coloridas, brilhantes, com estampas, calça saruel, calça mais acinturada, camisa feminina, masculina, macacão, bermuda, chapéu, boné e óculos de sol. Ele também tem três sandálias Melissa: uma laranja, uma amarela com desenho rosa e outra preta. Quando ele quer usar uma delas, ele mesmo vai na gaveta e pega.A ideia de comprar roupas sem gênero aconteceu de forma natural. Eu e o Anderson escolhemos as peças de acordo com o nosso gosto e visando ao conforto. A primeira vez em que eu coloquei turbante no Gael, ele tinha 6 meses. Houve um episódio em que eu estava na rua quando uma mulher me abordou e disse que nunca tinha visto um bebê tão lindo daquele jeito, que usa turbante. Ela não aguentou e pediu para tirar uma foto com ele. As pessoas acham que ele é uma criança diferentona, mas na verdade não é. Ele é normal, a única diferença é ser livre para usar o que quiser.
Gael foi chamado de mulherzinha ao usar peça da Mulher-Maravilha
Por várias vezes, o Gael foi confundido com menina. Eu não me incomodo quando sei que não é por mal, apenas corrijo falando que é um menino. Agora quando eu percebo que é por maldade sempre arranjo confusão. Um dia desses eu estava no caixa de um empório e um funcionário supermachista e grosseiro falou para mim: ‘Assim não dá né mãe, vestir o filho com a camiseta da Mulher-Maravilha? Ele vai virar mulherzinha’. Eu retruquei: ‘Se ele quiser ser mulherzinha, é um direito que ele tem. Não é a roupa que vai definir o gênero nem o caráter dele. Você está sendo preconceituoso, não sabe o que está falando”.Essa não foi a primeira vez em que recebi críticas ou me envolvi numa briga. Tenho um vizinho com um filho da idade do Gael. Eles são completamente diferentes, o menino é o típico ‘mauricinho’. Uma vez esse vizinho fez o seguinte comentário: ‘Gael, o tio vai dar umas roupas de homem para você’. Eu fiquei p… e prontamente respondi. Aí já viu, né? Ficou aquele climão.Uma outra situação que causou confusão entre as pessoas foi quando o Gael foi batizado vestindo um mandrião. Ao ver ele de touca e vestido, todo mundo na igreja jurava que ele era menina e dizia: ‘Parabéns, sua filha é linda’.
Compro roupas femininas para ele, e daí?
Nós permitimos que o Gael experimente de tudo. Não há restrição de nada. Quando vou a uma loja e vejo uma peça na seção feminina, as vendedoras me olham um pouco desconfiadas e advertem: ‘Ah, é de menina’. Eu falo: ‘E daí? Não tem problema, ele vai usar mesmo assim’.Pela dificuldade em achar roupas unissex, comecei a procurar marcas e mães empreendedoras que produzissem peças sem gênero. Foi assim que encontrei a Mini.mi Estúdio, da Adriana Farias. Gosto muito das criações dela, pois as roupas são feitas tanto para meninos quanto para meninas. Curto as edições limitadas que eles fazem de roupas iguais para pais e filhos, acho bem estiloso. Outra loja que compro bastante, apesar de vender peças exclusivamente femininas, é a Fábula. O Gael tem três macacões de lá.
Se ele for trans, vamos apoiá-lo
Meu filho não vai ser gay porque o visto com roupa de mulher ou porque o deixo brincar de amamentar sua boneca. Não é isso que vai influenciar a orientação sexual e o gênero dele. O Gael é uma criança e por enquanto é menino. Só quando for mais velho é que vai escolher o que quer ser. Se falar que é uma menina, não vou contestá-lo. Ele tem personalidade, não cabe a mim mudar o percurso da vida dele.Se amanhã ou depois ele se descobrir transgênero, vamos apoiá-lo e respeitá-lo. Como feminista, luto pela igualdade de direito entre homens e mulheres, me oponho ao preconceito contra homossexuais, contra trans e quero que ele aprenda esses valores. O mundo é muito diversificado e não dá para ignorar isso e educá-lo em uma ‘caixa’. Nesse sentido, nossa escolha ao criar o Gael é para que ele seja livre e respeite o outro independentemente da roupa que usa, da raça, do sexo, do gênero e da cor”.